Pesquisa publicada investiga como bactérias encontradas na boca podem estar ligadas a mudanças na função cerebral
Uma nova linha de pesquisa está revolucionando o entendimento sobre o Alzheimer. Cientistas suspeitam que o transtorno neurodegenerativo não seja uma doença, mas uma infecção que começa pela boca. É o que aponta um estudo publicado na revista Science Advances revelando que o responsável por essa condição é a bactéria Porphyromonas gingivalis, responsável pela periodontite (inflamação que afeta a gengiva).

O estudo sugere que essa bactéria pode migrar da boca para o cérebro, desencadeando uma série de reações que aceleram o declínio cognitivo. Pesquisadores começaram a investigar se essa bactéria também poderia estar associada ao Alzheimer, depois que fragmentos dela foram encontrados no cérebro de pacientes que faleceram com a doença.
Um dos experimentos realizados foi em camundongos. O estudo revelou que a bactéria libera toxinas chamadas gingipains, que são capazes de degradar proteínas essenciais para a função dos neurônios. Além disso, essas toxinas estimulam a produção de beta-amiloides, proteína frequentemente associada ao Alzheimer. Essas placas se acumulam no cérebro, prejudicando a comunicação entre as células nervosas e provocando inflamação crônica.
De acordo com a médica e dentista Ludmila Fonseca, o estudo é um alerta para a medicina já que a boca é um canal para desenvolvimento de doenças: “O Alzheimer é uma das doenças neurodegenerativas mais desafiadoras da atualidade. Apesar de uma hipótese científica, essa descoberta é muito significativa para a odontologia e a medicina. A nossa boca é a porta de entrada para diversas doenças, pois acumula bactérias e outros microrganismos que podem afetar a saúde”, explica.
A pesquisa sugere que infecções por bactérias, vírus e fungos podem influenciar o surgimento do Alzheimer e de outras demências. No entanto, os especialistas destacam que isso não significa que a bactéria seja a causa direta da doença, mas abre caminhos para novas investigações científicas.
Prevenção começa com a escova de dente
Os achados do estudo reforçam a importância da saúde bucal não apenas para a manutenção dos dentes, mas também para a proteção do cérebro. A periodontite afeta milhões de pessoas no mundo, especialmente idosos.

“A boca não está separada do resto do corpo. A inflamação gengival pode ser um fator de risco para diversas doenças sistêmicas, incluindo o Alzheimer”, comenta a especialista em cirurgia bucomaxilofacial, Ludmila Fonseca.
Enquanto os estudos avançam, a dentista reforça que a melhor estratégia continua sendo a prevenção. Manter uma boa higiene bucal, visitar o dentista regularmente e tratar inflamações gengivais o mais cedo possível pode ser uma maneira simples de proteger não apenas os dentes, mas também a saúde: “Com a ciência explorando novas conexões entre saúde bucal e doenças neurológicas, um velho conselho ganha ainda mais peso: nunca subestime o poder de uma escovação bem feita”, afirma Ludmila Fonseca.
DOUTORA LUDMILA
Ludmila Fonseca possui graduação em Odontologia pela Universidade Veiga de Almeida (2011) e Mestrado em Saúde Coletiva pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 2013). Ela é especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF-UFRJ) e especialista em Implantodontia (2016). Além disso, é formada em Medicina.
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